Custódio Ferreira Leite


O Barão de Aiuruóca - Uma notabilidade singular na nobiliarquia do Segundo Império


Mais do que uma satisfação pessoal, é um privilégio escrever sobre uma personalidade histórica com a envergadura de Custódio Ferreira Leite, o primeiro Barão de Aiuruóca. O título nobiliárquico lhe foi concedido pelo Imperador D. Pedro II, em momento em que Custódio já contava com setenta e três anos bem vividos, quatro anos antes do seu falecimento. Não se tratava, pois, de uma titulação que, denotando um preciso poder do outorgado, fosse uma ação de cooptação das potencialidades econômicas do titulado: antes, fora um galardão! Mesmo porque, em sua longa vida, Custódio fora sempre de espírito simples, jamais demonstrando ter necessidade de ostentação. E, no caso de sua titulação, este comportamento se viu reafirmado ainda uma vez, na ausência de um brasão - artefato de exteriorização do poder nobiliárquico - o qual jamais fez confeccionar.

Custódio Ferreira Leite nasceu em Conceição da Barra, Comarca do Rio das Mortes, a três de dezembro de 1782. Era filho do Sargento-Mor José Leite Ribeiro e de D. Escolástica Maria de Jesus, mulher de formação cristã e de poucas letras, como era habitual na época. Oitavo filho de uma prole numerosa – 13 irmãos – não foi o único dotado de espírito empreendedor. Seus biógrafos o descrevem como um homem de estatura elevada, rosto oval, olhar severo e nariz proeminente, conjunto que lhe conferia um aspecto truculento, mas que não fazia jus à magnanimidade e ternura que lhe eram próprias. Morreu aos 77 anos, a 17 de novembro de 1859. Foi inumado no cemitério da fazenda do Louriçal, sua antiga propriedade e, então, propriedade do seu sobrinho, Joaquim Vidal Leite Ribeiro, o Barão de Itamarandiba. A 26 de setembro de 1959, por ocasião das homenagens que lhe foram prestadas, pela passagem do centenário de seu falecimento, seus restos mortais foram transladados para o cemitério das Mercês, na cidade de Mar de Espanha, onde repousa desde então.

Pouco sabemos da educação recebida por Custódio, mas podemos imaginá-la de poucas letras e muita ação, como era habitual em uma província central do Brasil-Colônia de então. O certo é que, após a chegada de D. João VI ao Brasil, vamos encontrá-lo, já homem feito, como o Capitão-Mor Custódio Ferreira Leite, da milícia colonial. Nestas forças, ele chegou à patente de coronel. Nos primeiros tempos da colonização, as vias de comunicação não eram mais que picadas abertas, geralmente, sobre as picadas originais usadas pelos indígenas. Em 1815, encontramos Custódio Ferreira Leite abrindo a Estrada do Comércio, cujo contratante era o seu irmão Francisco Leite Ribeiro. Em 1818, um decreto Regencial concede-lhe 17 sesmarias nas proximidades do Arraial do Cágado (atual Mar de Espanha, em Minas Gerais); em 1821, obteve uma sesmaria em Campo Alegre (atual Resende), com terras que compreendiam os atuais municípios de Barra Mansa e Volta Redonda. Para desenvolver a cultura do café em suas propriedades, lança os fundamentos do povoado de São Sebastião da Posse, o qual daria origem à cidade de Barra Mansa; atrai para a região Sul-fluminense alguns dos seus familiares, entre os quais o seu sobrinho, Francisco José Teixeira Leite (o futuro Barão de Vassouras) que se estabeleceu em Vassouras, com fazenda de café. Ainda nesse ano de 1821, Custódio conduziu a construção da Estrada da Polícia, cujo contratante era o seu irmão, Francisco. Realizou o aterro do Engenho do Brejo e construiu a ponte sobre o ribeirão das Mortes, em Desengano, abrindo o rumo de Valença e daí ao rio Preto, donde também se alcançava Passa Vinte e Mar de Espanha.

A partir de 1826, criou as condições para que se erguessem 12 igrejas nessa região do Sul-fluminense, destacando-se entre elas as de Barra Mansa, Arrozal, Vassouras, Marquês de Valença, Conservatória e Sapucaia. Residindo em Vassouras, em 1828 faz construir a capela que originou a igreja de N. S. da Conceição e, juntamente com seu sobrinho Francisco José, empenhou-se, conseguindo-o, para que a Regência transferisse a sede da vila, que era Pati do Alferes, para Vassouras. Após a elevação de Vassouras à condição de Vila, influiu para o estabelecimento, na cidade e na região, de outros familiares, entre os quais o seu sobrinho, Domiciano Leite Ribeiro (o futuro Visconde de Araxá), o qual advogava para os fazendeiros da região.

Contudo, no decurso do ano de 1826 transferira sua residência para Valença, onde encontramos a sua assinatura na Ata da Criação da Vila de Nossa Senhora da Glória de Valença, no dia 10 de novembro de 1826. Dois dias após, era eleito para o cargo de Juiz Ordinário, nele permanecendo até fins de 1827. Em 1828 ele promovia uma subscrição pública visando a compra de um prédio para a instalação da Casa da Câmara de Valença.

A partir de 1835 transfere sua residência para a Fazenda do Louriçal, em Mar de Hespanha - MG, passando a dedicar-se a profícuas atividades políticas na Província de Minas Gerais, onde foi Deputado. Sua vida de atividades somente veio a cessar quando a morte veio buscá-lo, lá no Louriçal.

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